Cometa Interestelar 3I/ATLAS: Tudo o que sabemos sobre o visitante cósmico
O universo está repleto de mistérios e fenômenos que desafiam nossa compreensão. Entre eles, a visita de objetos interestelares ao nosso sistema solar é um evento raro e fascinante. O Cometa Interestelar 3I/ATLAS é um desses visitantes cósmicos, o terceiro objeto conhecido a cruzar as fronteiras do nosso sistema estelar.
Sua passagem oferece uma oportunidade única para os cientistas estudarem a composição e a origem de corpos celestes formados em outras estrelas.
Neste artigo, exploraremos tudo o que sabemos sobre o 3I/ATLAS, desde sua descoberta até as teorias mais intrigantes sobre sua natureza e o que sua jornada pode nos revelar sobre o vasto cosmos.
A Descoberta do Cometa Interestelar 3I/ATLAS
A descoberta do Cometa Interestelar 3I/ATLAS, também conhecido como C/2025 N1 (ATLAS), foi oficialmente reportada em 1º de julho de 2025, pelo telescópio de pesquisa ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) localizado em Rio Hurtado, Chile. No entanto, observações anteriores à descoberta, datadas de 14 de junho, foram posteriormente coletadas dos arquivos de outros telescópios ATLAS ao redor do mundo e da Zwicky Transient Facility do Caltech no Observatório Palomar, na Califórnia.
Este cometa é o terceiro objeto conhecido a ter se originado de fora do nosso sistema solar. Os astrônomos o classificaram como interestelar devido à forma hiperbólica de sua órbita, o que significa que ele não segue uma trajetória fechada em torno do Sol, mas sim está apenas de passagem pelo nosso sistema solar, vindo de outro sistema estelar. Os dois primeiros objetos interestelares confirmados foram 1I/ʻOumuamua, descoberto em outubro de 2017, e 2I/Borisov, descoberto em agosto de 2019.
Quando foi descoberto, o 3I/ATLAS estava a uma distância de aproximadamente 670 milhões de quilômetros do Sol, dentro da órbita de Júpiter. Sua trajetória indica que ele se aproximava da direção geral da constelação de Sagitário, onde está localizada a região central da nossa galáxia, a Via Láctea.
Características e Origem do 3I/ATLAS
O Cometa 3I/ATLAS é um objeto ativo, o que significa que possui um núcleo gelado e uma coma (uma nuvem brilhante de gás e poeira que envolve o cometa à medida que ele se aproxima do Sol). É por essa atividade que os astrônomos o classificam como um cometa e não como um asteroide. A atividade do cometa é impulsionada pelo Sol, que aquece o núcleo gelado, fazendo com que o gelo sublime em gás e libere poeira, formando a coma.
O tamanho exato do núcleo do 3I/ATLAS é incerto devido à presença da coma de gás e poeira, que o faz parecer mais brilhante e maior nas imagens. No entanto, imagens de alta resolução do Telescópio Espacial Hubble, capturadas em julho de 2025, sugerem que o diâmetro do núcleo está entre 0,32 e 5,6 quilômetros, sendo o tamanho mais provável inferior a 1 quilômetro. O Hubble revelou um casulo de poeira em forma de lágrima saindo do núcleo sólido e gelado do cometa.
Estima-se que o cometa tenha se formado em outro sistema estelar e, de alguma forma, foi ejetado para o espaço interestelar, que é o espaço entre as estrelas. Por milhões ou até bilhões de anos, ele vagou até recentemente chegar ao nosso sistema solar [1]. Observações confirmaram que o cometa contém água na forma de grãos de gelo e vapor d’água. Espera-se que ele contenha outros voláteis, como dióxido de carbono e monóxido de carbono, embora estes ainda não tenham sido detectados.
A trajetória do cometa é hiperbólica, com uma excentricidade de 6.141±0.002, o que confirma sua origem interestelar e não ligada ao nosso Sol. Sua órbita é altamente inclinada (175.11±0.0002°), retrógrada e quase alinhada com o plano dos planetas do Sistema Solar.
Teorias e Especulações sobre o 3I/ATLAS
A chegada de um objeto interestelar como o 3I/ATLAS sempre gera grande interesse e especulações, tanto na comunidade científica quanto no público em geral. Uma das principais teorias sobre a origem de objetos como o 3I/ATLAS é que eles são ejetados de seus sistemas estelares de origem devido a interações gravitacionais. Por exemplo, um encontro próximo com um planeta gigante ou outra estrela pode acelerar um cometa ou asteroide a uma velocidade tão alta que ele escapa da atração gravitacional de sua estrela-mãe.

Outra linha de especulação se concentra na composição do 3I/ATLAS. Embora já se saiba que ele contém água, a detecção de outros voláteis pode fornecer pistas cruciais sobre as condições de formação em seu sistema estelar de origem. A análise detalhada de sua composição pode revelar se ele se formou em uma região mais quente ou mais fria de sua nebulosa protoplanetária, ou se sofreu alterações significativas durante sua longa jornada interestelar.
A idade do 3I/ATLAS também é um tópico de interesse. Acredita-se que ele tenha se originado do disco espesso da Via Láctea, uma região onde residem estrelas mais antigas, indicando que o cometa pode ter pelo menos 7 bilhões de anos. Essa idade avançada, se confirmada, faria do 3I/ATLAS um dos objetos mais antigos já estudados, oferecendo uma janela para as condições do universo primitivo.
Além das teorias científicas, a natureza interestelar do 3I/ATLAS inevitavelmente levanta questões sobre a possibilidade de vida extraterrestre. Embora não haja evidências de que o cometa abrigue vida, a ideia de que ele possa ter transportado material orgânico ou até mesmo microrganismos de outro sistema estelar para o nosso é um conceito fascinante que continua a alimentar a imaginação.
O Impacto da Passagem do 3I/ATLAS
A passagem do Cometa Interestelar 3I/ATLAS pelo nosso sistema solar é um evento de grande importância para a astronomia. Embora não represente uma ameaça para a Terra, pois não se aproximará a menos de 240 milhões de quilômetros do nosso planeta, sua trajetória oferece uma oportunidade ímpar para os cientistas. O 3I/ATLAS atingirá seu ponto mais próximo do Sol por volta de 30 de outubro de 2025, a uma distância de cerca de 210 milhões de quilômetros, um pouco mais perto do que a órbita de Marte.
Durante sua jornada pelo sistema solar interno, o 3I/ATLAS continuará a ser observado por telescópios terrestres até setembro de 2025, quando passará muito perto do Sol para ser visível. Ele reaparecerá do outro lado do Sol no início de dezembro de 2025, permitindo novas observações. Essas observações são cruciais para refinar as estimativas de seu tamanho, composição e comportamento à medida que interage com a radiação solar.
A velocidade do 3I/ATLAS é notável: quando descoberto, ele viajava a cerca de 221.000 quilômetros por hora (61 quilômetros por segundo), e sua velocidade aumentará à medida que se aproxima do Sol. Essa velocidade extrema, combinada com sua natureza interestelar, torna-o um laboratório natural para estudar os efeitos de encontros de alta velocidade no espaço e a resiliência de objetos cósmicos.
Além das observações diretas, a passagem do 3I/ATLAS pode fornecer dados valiosos para modelos de formação e evolução de sistemas planetários. Ao comparar as características do 3I/ATLAS com os cometas e asteroides do nosso próprio sistema solar, os cientistas podem obter insights sobre a diversidade de materiais e processos que ocorrem em outras partes da galáxia. A análise de sua órbita e composição pode ajudar a entender como objetos são ejetados de seus sistemas de origem e como eles viajam pelo espaço interestelar por longos períodos.
O Cometa Interestelar 3I/ATLAS representa um marco na astronomia, sendo o terceiro objeto interestelar a ser observado em nosso sistema solar. Sua passagem oferece uma oportunidade sem precedentes para aprofundar nosso conhecimento sobre a formação de sistemas estelares além do nosso e a composição de corpos celestes que viajam pelo vasto espaço interestelar. As observações contínuas e a análise de seus dados prometem revelar segredos sobre a origem e a evolução do universo.
À medida que o 3I/ATLAS continua sua jornada, ele nos lembra da imensidão e da complexidade do cosmos, e da constante descoberta que a ciência nos proporciona. Este visitante cósmico, embora efêmero em sua passagem, deixará um legado duradouro em nossa compreensão do universo.