Por que os nomes de estrelas na astronomia parecem tão estranhos (e o que eles realmente significam)
Você já olhou para o céu e se deparou com nomes como Betelgeuse, Aldebaran, Proxima Centauri, HD 209458 b ou mesmo ZTF J1901+1458? Se parece grego, é porque em parte… é mesmo.
Mas apesar de parecer uma salada de letras, números e mitologia, os nomes de estrelas na astronomia seguem regras (algumas bem antigas, outras moderníssimas). E cada uma dessas estrelas estranhas carrega uma história ainda mais interessante por trás do nome.
Neste artigo, vamos entender por que os nomes de estrelas são assim, quem escolhe esses nomes, e como a ciência equilibra tradição, mitologia e praticidade para nomear os objetos mais brilhantes do céu!
Um céu dividido por culturas
Muito antes da astronomia moderna organizar o céu em catálogos, diferentes civilizações nomeavam as estrelas com base em suas mitologias, crenças e observações do cotidiano. Os egípcios, babilônios, gregos, chineses, árabes e muitos outros povos batizavam estrelas com nomes que tinham significados religiosos, agrícolas ou astrológicos.
Muitas das estrelas visíveis a olho nu ganharam nomes árabes durante a Idade Média, quando os astrônomos islâmicos dominaram o estudo do céu. Por isso temos nomes como Altair (“a ave voadora”), Aldebaran (“o seguidor”), e Betelgeuse (cujo nome original pode significar “axila do gigante”).
Esses nomes se perpetuaram graças à tradução dos manuscritos árabes para o latim e, mais tarde, para os idiomas modernos, fixando esses nomes tradicionais nos mapas celestes até hoje.
A partir de que momento os nomes passaram a ficar… estranhos?
Com o avanço da astronomia moderna, principalmente a partir do século XVII, a quantidade de estrelas observadas cresceu exponencialmente. Não dava mais para nomear tudo com base em mitos ou aparência. Era preciso método.
O astrônomo Johann Bayer, por exemplo, criou um sistema no qual ele nomeava estrelas com letras gregas seguidas do nome da constelação. Assim nasceu a famosa Alfa Centauri (a estrela mais brilhante da constelação Centaurus), Beta Orionis (conhecida também como Rigel), entre outras.
A partir do século XX, com telescópios mais potentes e missões espaciais, a coisa explodiu. Estrelas começaram a receber nomes baseados em coordenadas, catálogos e números de série. Exemplos:
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HD 209458 b: Uma estrela e seu planeta do catálogo Henry Draper.
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ZTF J1901+1458: Uma estrela anã branca extremamente densa identificada pela Zwicky Transient Facility.
Se parecem códigos de Wi-Fi, é porque a ideia é exatamente essa: localização precisa, única e sistemática.
Quem decide os nomes das estrelas?
A autoridade máxima na nomeação oficial de corpos celestes é a IAU (União Astronômica Internacional). Desde 1919, ela é responsável por padronizar a nomenclatura astronômica e evitar duplicações ou nomes fantasiosos (por mais divertidos que fossem).
A IAU separa os nomes em duas categorias principais:
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Designações técnicas: usadas em artigos científicos e bancos de dados. Exemplos: HIP 7588, HD 140283, PSR B1919+21.
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Nomes próprios: dados a algumas estrelas de maior destaque. Em 2016, a IAU lançou a campanha “NameExoWorlds” para permitir que o público escolhesse nomes para exoplanetas e suas estrelas. Assim nasceram nomes como Dimidium, Alef, e Dagon.
É importante destacar: vender nomes de estrelas é algo meramente simbólico e não reconhecido oficialmente. Sites que vendem “o seu nome em uma estrela” não têm vínculo com a IAU.
E os planetas fora do Sistema Solar?
Com o boom da descoberta de exoplanetas, a necessidade de nomeação aumentou ainda mais. A maioria recebe nomes ligados à estrela principal mais um identificador, como Kepler-22b (um planeta orbitando a estrela Kepler-22). Os nomes oficiais costumam vir de missões espaciais como Kepler, TESS ou Gaia.
Mas com a ajuda do público, nomes mais poéticos vêm sendo aprovados. Em 2019, o Brasil participou da campanha da IAU e escolheu o nome Yvaga (“céu”, em guarani) para um exoplaneta, e Tupi para sua estrela.
As estrelas mais conhecidas e seus significados
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Betelgeuse: Vem do árabe “Yad al-Jauza” e significa “a mão de Orion” ou “axila do gigante”.
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Aldebaran: “O seguidor” em árabe, pois parece seguir as Plêiades no céu.
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Sirius: Do grego, “ardente” ou “brilhante” — e com razão, é a estrela mais brilhante do céu noturno.
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Vega: Significa “águia voadora” em árabe.
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Rigel: Do árabe “Rijl Jauzah al Yusrá”, que significa “o pé esquerdo do gigante” (Orion).
Cada nome carrega séculos de observação, tradução e interpretação cultural.
Por que manter nomes estranhos?
Porque nomes como HD 189733 b podem não ser charmosos, mas são únicos e práticos. Eles evitam confusões entre pesquisadores do mundo inteiro e ajudam a organizar catálogos com milhões de objetos.
Mas isso não impede que a ciência mantenha o romantismo. O marketing da astronomia ainda permite que missões tenham nomes poéticos: Gaia, Dawn, Artemis, Apollo, James Webb…
Como saber o nome de uma estrela que você vê no céu?
Você pode usar aplicativos como:
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Sky Guide (iOS)
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Stellarium (iOS, Android, desktop)
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Sky Map (Android)
Com eles, basta apontar o celular para o céu e descobrir o nome oficial, o nome popular (se houver) e até detalhes como distância, magnitude e constelação.
Curiosidade bônus: você pode dar nome a uma estrela?
Sim, simbolicamente. Diversas empresas vendem certificados com nomes personalizados para estrelas. É um presente bonito, mas não tem valor científico. Só a IAU pode aprovar nomes oficiais.
O céu é um arquivo vivo de histórias
Mesmo com nomes difíceis, o céu continua sendo uma biblioteca cheia de significados. Cada estrela tem sua identidade, e conhecê-las é como explorar um idioma cósmico cheio de mitos, coordenadas e descobertas científicas.
Entender os nomes de estrelas na astronomia é mergulhar numa mistura de ciência, história e imaginação — tudo ao alcance dos olhos (ou de um bom telescópio).
Pra quem gosta de fotos das estrelas
📸 Para ilustrar seu mergulho no céu, confira estas fontes gratuitas de imagens de estrelas e do espaço:
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